Paulo Flores*
Há algum tempo queria escrever um artigo sobre o aborto. Em princípio, minha idéia era alertar que o assunto estava posto apenas sob a ótica religiosa e que não havia sido feito um amplo debate no campo das ciências sociais e humanas que o mesmo merece. Entretanto, uma nota embasada em reflexões levantadas por uma “Comissão em Defesa da Vida”, amplamente divulgada pela internet, lida ou citada durante as missas e por meio de panfletos distribuídos nas portas das igrejas e em vias públicas, acelerou a necessidade de oferecer uma contribuição para que alguns pontos sejam mais bem esclarecidos.
O agravante é que a referida nota – que tem entre seus principais defensores uma pessoa que foi candidato em São Paulo ao cargo de deputado Federal, por um partido que faz parte da coligação do PSDB –, foi respaldada por bispos católicos de dioceses paulistas, mesmo contrariando decisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por sugerir voto contrário a um partido.
O tema aborto virou spam (pragas virtuais da internet) e passou a ser o assunto do momento. Continua sendo debatido apenas pela ótica religiosa e, mesmo nesta ótica, superficialmente. Mas, ao contrário do que alguns poderiam querer, abriu-se um enorme espaço para o debate do tema em profundidade, tanto na ótica religiosa quanto na social.
Este artigo não pretende ser o ponto final do debate. A intenção é apenas apresentar algumas observações para dar mais qualidade a ele.
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