quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Textos que fazem refletir

Como alguns já sabem, faço parte do GT de Educação do Instituto Paulista de Juventude (IPJ), no qual estamos estudando e debatendo o currículo escolar, principalmente do Ensino Médio.

Li nos últimos dias alguns textos que me fizeram refletir um pouco mais sobre o tema.

Um deles foi o artigo “O educador e a educação em uma instituição burocrática: a escola pública”, escrito por Marcelo Henrique Picolo Naves. O texto reflete basicamente sobre três eixos:

  • Educação, escola e sociedade;
  • Burocracia escolar;
  • As perdas que se tem com tudo isso.
O segundo foi uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo no dia 18 de agosto, na qual alguns profissionais da educação afirmam que emendas na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) incham o currículo escolar com novas matérias e obrigam gestores a reduzir o número de aulas em matérias tradicionais, como Português, Matemática, História entre outras.

A reportagem afirma que, de 2007 até o mês passado, emendas incluíram seis novos conteúdos na LDB da educação e que há ainda leis específicas, que datam a partir de 1997, que complementam a LDB, além de outras dezenas de projetos com novas inclusões tramitam no Congresso.

Segundo o que afirma o texto, a rede estadual de São Paulo, por exemplo, os estudantes do período diurno tiveram uma redução de cerca de 80 aulas de história, na soma dos três anos letivos do ensino médio.

Em resumo, diz

 que os legisladores incluem conteúdos na grade curricular sem conhecer a realidade da sala de aula, na maioria das vezes influenciados por ações corporativistas, e sobra para os gestores, professores e alunos o problema a solucionar. A ideia é resolver problemas sociais, mas a escola tem de dar os fundamentos para que o aluno faça sua leitura de mundo. Os profissionais da educação ouvidos defendem que o currículo seja discutido forma integral e organizada e não fragmentada.

O terceiro texto foi publicado pelo mesmo jornal no início do mês. Trata-se de uma entrevista com a ex-secretária-adjunta de Educação dos EUA, Diane Ravitch. Ela foi uma das responsáveis reforma educacional daquele país, baseada em metas, testes padronizados, responsabilização do professor pelo desempenho do aluno e fechamento de escolas mal avaliadas. Mas – incrível –, ela mudou de idéia porque o ensino não melhorou e foram identificadas muitas fraudes no processo:
  • O objetivo de ter 100% dos estudantes com proficiência até 2014 era utópico;
  • Os Estados acabaram diminuindo suas exigências e rebaixando seus padrões para tentar atingir o objetivo utópico;
  • Escolas foram e continuam sendo fechadas porque não atingiram a meta.
Ela disse ainda que a estratégia de avaliações e responsabilização levou a alguns tipos de trapaças, manobras para driblar o sistema e outros tipos de esforços duvidosos para alcançar um objetivo que jamais seria atingido. Isso também levou a uma redução do currículo, associado a recompensas e punições em avaliações de habilidades básicas em leitura e matemática. Você acha que existe algo semelhante no Brasil?

O governo tucano implantou esse mesmo sistema em São Paulo. O atual candidato à presidência pelo PSDB, José Serra, implantou um sistema de bonificação aos professores e escolas que atingem a meta. Temos informações de que, assim como aconteceu nos EUA, aqui também ocorreram fraudes para se atingir metas. Em outros casos, há treinamento específico para que os alunos se saiam bem nesse tipo de prova, mas não os educa verdadeiramente.

Ela foi enfática ao afirmar que é preciso que as famílias apoiem e estimulem a educação (o currículo cultural, que já vem de casa). Para Diane Ravitch, a escola precisa de um currículo sólido, bastante definido, em todas as disciplinas ensinadas. Sem isso, todo o resto se resume a desenvolver habilidades para realizar testes. Segundo ela “qualquer ênfase exagerada em processos de responsabilização é danosa para a educação. Isso leva apenas a um esforço grande em ensinar a responder testes, a diminuir as exigências e outras maneiras de melhorar a nota dos estudantes sem, necessariamente, melhorar a educação”. Ela firma ainda que “a responsabilização dos professores está sendo usada de maneira a destruí-los”.

Para ela “o foco deve ser sempre em melhorar a educação e não simplesmente aumentar as pontuações nas provas de avaliação [...] precisamos nos preocupar com as necessidades dos estudantes, para que eles aproveitem a educação”.

Acredito que podemos debater sobre isso.

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